De acordo com estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2019, o câncer teria sido a primeira ou segunda causa de morte antes dos 70 anos em 112 países, ocupando o terceiro ou quarto lugar em mais 23 países.
Acredita-se que o câncer apareceu pela primeira vez na história em 2600 a.C., quando um médico chamado Imhotep registrou a identificação de “uma massa saliente no peito, fria, dura e que se espalha”.
A partir de então, surgiram diversos casos da doença e, com isso, deu-se início a uma busca sem fim pela cura. No entanto, até onde se sabe, existem mais de 200 tipos diferentes de câncer e, por isso, o tratamento não é único.
Segundo registros históricos, o tratamento do câncer percorreu um grande caminho até chegar onde está atualmente. Com o avanço da medicina, as alternativas se diversificaram, buscando atender cada diagnóstico específico.
Porém, surgiu um novo empecilho no combate à doença: o preço do tratamento.
A evolução do tratamento do câncer
Com o passar dos anos, as informações sobre os carcinomas se acumularam e se atualizaram, possibilitando uma constante evolução nas alternativas terapêuticas.
Na década de 70, com a criação da quimioterapia, a oncologia sofreu uma primeira revolução e, desde então, essa terapia tem sido utilizada como “tratamento padrão” para pacientes com tumores malignos.
Contudo, visto que a quimioterapia ataca todas as células de crescimento rápido no corpo, os efeitos colaterais se tornaram um problema. Por isso, foram pesquisadas alternativas que fossem menos danosas ao organismo dos pacientes.
Como resultado, foram criadas as terapias-alvo, que atacam especificamente as células cancerígenas, reduzindo significativamente o número de efeitos colaterais que o paciente pode apresentar.
A segunda revolução no tratamento oncológico veio com a imunoterapia, que convence o próprio sistema imunológico a combater o carcinoma.
O problema é que, embora as chances de cura aumentem, o desenvolvimento de novos medicamentos, equipamentos e terapias tem um custo muito alto, o que pode dificultar o acesso ao tratamento.
O preço do câncer
De acordo com dados divulgados no 3º Congresso Brasileiro do movimento Todos Juntos contra o Câncer, em 2016, entre os anos de 1999 e 2015, os gastos no Brasil com o tratamento da doença aumentaram de R$ 470 milhões para R$ 3,3 bilhões.
Desse valor, cerca de dois terços dos gastos estão relacionados somente à quimioterapia e, com o avanço nos tratamentos e o aumento no número de novos casos da doença, a expectativa é que os gastos também saltem.
Segundo o Instituto Oncoguia, projeções indicam que, entre 2010 e 2030, o investimento mundial em tratamentos oncológicos deve subir de US$ 290 bilhões para US$ 458 bilhões.
O problema é que, apesar do alto investimento e dos avanços na medicina, o acesso a tratamentos de ponta é extremamente desigual.
Segundo pesquisas, países ricos apresentam a maior incidência de casos de câncer. Porém, mesmo assim, 70% das mortes pela doença ocorrem em locais onde a renda é média e baixa.
Isso pode ser atrelado ao custo dos tratamentos oncológicos, especialmente os de ponta. No caso da terapia-alvo, por exemplo, tratar um único paciente pode chegar a custar R$ 600 mil. Na imunoterapia esse valor é anual.
Mas, o Sistema Único de Saúde (SUS) não cobre o tratamento oncológico?
Sim! Porém, é importante levar em consideração a relação entre a demanda por tratamento e os limites impostos pelo orçamento público.
De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2019, 150 milhões de brasileiros dependiam do SUS, número que correspondia a mais de 70% da população inteira na época.
Em um levantamento realizado pelo pesquisador André Medici com dados do Ministério da Saúde, em 2005, os gastos com tratamento cirurgias, quimio e radioterapia totalizaram R$ 1.128,6 bilhões no Brasil.
Em 2014, os gastos com as mesmas coisas chegaram a R$ 2.496 bilhões.
Outro levantamento do Instituto Nacional do Câncer (INCA), que considerou gastos com cirurgias oncológicas, radioterapia, quimioterapia e iodoterapia do CD, indicou que o país gastou R$ 470,05 milhões em 1999, R$ 1.569 bi em 2009 e R$ 3.280,25 bi em 2015.
Apesar do alto investimento, a demanda por atendimento é muito alta e, como resultado, o paciente fica por meses ou até mesmo anos em uma fila de espera. Quando a terapia finalmente é disponibilizada, já é tarde demais.
Como ficam os pacientes que têm plano de saúde?
De acordo com a Lei dos Planos de Saúde (nº 9.656), a operadora deve custear o tratamento das doenças elencadas na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Esse é o caso do câncer, que deve ser tratado pelo plano de saúde mediante prescrição médica.
Contudo, mesmo sendo um direito do paciente, o tratamento oncológico é um alvo recorrente da falta de sensibilidade das operadoras de saúde. Com isso, muitos pacientes são impedidos de realizar o tratamento pois não têm como custear a terapia particular.
Por isso, é comum que beneficiários de planos de saúde procurem especialista para recorrer ao Poder Judiciário e, assim, garantir o acesso ao tratamento.
É possível reduzir o preço do tratamento do câncer?
O câncer é dividido em estágios conforme a gravidade e progressão da doença:
- Estágio 0: também chamado de carcinoma em situ, é o estágio em que a doença está restrita à área inicial onde apareceu;
- Estágio 1: estágio de desenvolvimento inicial do tumor na área de início, ainda sem comprometimento linfático;
- Estágio 2: o câncer começa a se espalhar pelo tecido inicial ou por mais de um tecido, já com comprometimento linfático;
- Estágio 3: carcinoma localmente avançado, espalhado por mais de um tecido e causando comprometimento linfático;
- Estágio 4: metástase à distância (se espalhando para outros órgãos ou todo o corpo);
- Estágio 5: fase terminal.
De acordo com uma pesquisa financiada pelo Tribunal de Contas da União, no ano de 2010, 60,5% dos casos de câncer diagnosticados no Brasil já estavam nos estágios 3 e 4, fase em que os custos do tratamento costumam ser entre 60% e 80% maiores que nos estágios 1 e 2.
Segundo um estudo realizado em 2016 com dados do Datasus, o custo do tratamento oncológico cresce conforme a doença se agrava. Isso porque, em estágios tardios, são utilizados tratamentos mais intensos e, consequentemente, mais caros.
Outro estudo, realizado pela UNIMED de Belo Horizonte entre 2008 e 2010 com 447 pacientes, o custo do tratamento dos pacientes diagnosticados em estágio avançado, que foi de 35 milhões de dólares, seria de apenas 5 milhões de dólares caso a doença fosse detectada na fase inicial.
Com base nisso, entende-se que a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer podem fazer uma grande diferença nos gastos com tratamento.
Imagens do texto: Unsplash (@nci)